sexta-feira, 12 de junho de 2009

Nelson Piquet - Parte II


















O ano de 1987 se inicia de forma trágica para o Nelson Piquet, AYRTONfaltavam exatamente sete anos para Ayrton Senna morrer naquela mesma curva, quando algo se quebrou na suspensão traseira da Williams - Honda de Piquet, fazendo com que o carro, a mais de 250 quilômetros por hora, desse um giro de 180 graus e voasse de ré pela área de escape até se espatifar no muro. Ao ser retirado do carro, Piquet estava tonto, parecia sofrer de amnésia e mal conseguia articular as palavras. Passado o susto inicial, o treino foi reiniciado e Senna conquistou a pole. Na corrida, Ayrton não teve como resistir a Mansell, terminando em segundo. Piquet acompanhou e comentou a prova na cabine da TV Globo, ao lado de Reginaldo Leme e Galvão Bueno, impedido de participar da prova pelo médico Sid Watkins, que explicou:

- "Piquet está fora de perigo, graças a Deus, e fora da prova, graças ao meu bom senso.”

Nelson jamais foi o mesmo na pista, pelo menos naquela temporada. Passou quase três meses conseguindo dormir, no máximo, três horas. Antes, dormia dez, 11 por dia. Também perdeu a concentração em vários momentos. Mais lento e sem condições de enfrentar a Williams de Mansell, ele acabou decidindo correr propositalmente para chegar em segundo.


AYRTON - O Herói Revelado
E foi dessa forma, que nas duas corridas seguintes (Mônaco e Detroit), Piquet seguiu à risca seu planejamento e juntamente com Senna, contribuíram para o automobilismo nacional com mais duas dobradinhas. Na corrida de Detroit, inclusive, Na coletiva para a imprensa após o pódio, Reginaldo Leme procurou descontrair, brincando com o domínio brasileiro na Fórmula 1. Senna aceitou:

- No campeonato desse ano há muitas possibilidades de dar Brasil, não é, Nelson?

- É isso aí.

Os dois riram da resposta de Piquet, mas não conseguiram disfarçar completamente o clima pouco à vontade. Era um tempo em que Ayrton e Nelson, nas palavras de Renato Maurício Prado, ainda não eram "inimigos definitivos".


















A partir daquele momento, o campeonato se tornou um duelo feroz entre Piquet e Mansell na pista, no boxe e na imprensa. Senna foi o quarto colocado no GP da França e, uma semana depois, testemunhou, no pódio de Silverstone, como terceiro colocado, o momento mais desconcertante da carreira de Piquet: a vitória espetacular de Mansell no GP da Inglaterra, em Silverstone, depois de aplicar um drible surpreendente em Nelson a três voltas do final.

Mesmo disputando o título mundial, que lhe renderia o tricampeonato, Piquet continuava achando tempo para provocações, e Senna as recebeu, como seus amigos mais próximos já esperavam:


"Tudo tem um limite. Até hoje recebi passivamente todas as críticas e comentários de Nelson Piquet, mas agora passarei a responder. As respostas serão dadas num nível mais alto, é claro, mas serão dadas.”

AYRTON - O Herói Revelado

Muitos não tinham entendido a razão daquele comentário ameaçador de Senna, no início de 1987, durante uma entrevista a O Jornal do Brasil. Alguns poucos sabiam que era uma resposta a uma diversão secreta à qual vinham se dedicando Piquet, Prost e alguns desafetos de Ayrton no paddock da Fórmula 1. A brincadeira, cuidadosamente mantida longe do conhecimento do público, àquela época, era dizer que Senna era homossexual.


AYRTON - O Herói Revelado

Esse tipo de comentário, meio brincadeira, meio provocação, era bastante comum na Fórmula 1. O próprio Nelson Piquet se referiu a esta prática, em 11 de março de 1996, na coluna "Pé embaixo", que ele assinava semanalmente no jornal O Estado de São Paulo. Piquet ditou ao jornalista responsável pelo texto da coluna um relato sobre como se divertia, inventando histórias para o que ele chamou de "Rádio Boxe":

"Rádio Boxe é uma estação de rádio virtual, via boca-a-boca, da qual eu participei ativamente, ajudando muito a tomar corpo, forma e - por que não dizer - importância. Explico melhor: Rádio Boxe é puro bochincho, especulação, invenção e funciona graças à necessidade que todos têm de passar à frente uma notícia, acrescida da sua contribuição pessoal. Sabe como é: a confirmação do ditado 'quem conta um conto aumenta um ponto'.”

AYRTON - O Herói Revelado












Diante do estranhamento que provocava, um profissional extremamente obcecado pela vitória e da forma avassaladora com que ele conquistou seu espaço na Fórmula 1, Prost, Piquet, adversários e rivais na pista, e alguns poucos jornalistas brasileiros que não simpatizavam com ele, reagiram com uma certa hostilidade e, nesse contexto, surgiram as brincadeiras sobre a sexualidade de Ayrton, principalmente após a chegada de Júnior na Europa.


O fato é que o campeonato seguiu de forma como esperado, apesar das desavenças entre Senna e Piquet, o que fica de certo é que durante aquela temporada, eles tiveram poucas chances de resolver as diferenças dentro de pista, devido à qualidade superior da Williams em comparação a Lotus. Piquet, já havia anunciado que não iria continuar pela Williams, e negociava com a Lotus. Senna por sua vez, negociava com a Mclaren. Ao final de 1987, a experiência e "malandragem carioca" de Nelson Piquet lhe valeu a condição de tricampeão mundial. Entretanto a rivalidade iria se acirrar ainda mais no ano seguinte.



















AYRTON - O Herói ReveladoEm uma entrevista concedida ao correspondente Sérgio Rodrigues do Jornal Brasil, Senna fora questionado no dia 3 de março de 1988, qual o motivo de seu sumiço do noticiário, a poucos dias do GP do Brasil. A resposta era simples: Ayrton vinha de férias na fazenda da família, no interior de São Paulo, e de dez dias de sol e praia na casa que Galvão alugara em Búzios, no litoral do Rio.

Não foi o que ele respondeu. A pergunta de Sérgio era um convite tentador para uma pequena provocação ao rival Nelson Piquet, um tricampeão contestado por alguns por ter vencido a temporada anterior com três vitórias, sete segundos lugares e também por ter sido beneficiado pelas trapalhadas de Nigel Mansell.

AYRTON - O Herói Revelado

Senna aproveitou. E cutucou:

"- Eu tinha que dar aos outros uma chance de aparecer um pouco. Afinal, não fazia sentido o cara ser tricampeão e eu continuar sendo assunto. Já que ninguém gosta muito dele, o único jeito era eu sumir para que ele pudesse aparecer um pouco."

Galvão, ouvindo tudo, sentiu o calibre da manchete que acabara de ser passada às mãos de Sérgio Rodrigues. E ao ser cutucado por um Ayrton ainda meio moleque e satisfeito com o próprio atrevimento, antecipou o que foi o episódio mais doloroso da vida pública de Senna:

AYRTON - O Herói Revelado

"-Você acabou de se fo..."

Senna percebeu rápido e fez uma apressada correção:

"-Vem cá, isso é brincadeira, hein? Eu sumi porque estou há muito tempo sem férias e sem descanso."

Sérgio registrou as ressalvas, mas não jogou fora a manchete. Galvão não o perdoou.















A resposta veio à cavalo, e com velocidade aproximada de 820 cavalos, em uma entrevista concedida à uma renomada jornalista, o tricampeão mundial, respondeu em alto e bom som:



"Vou dizer que aquele filho da p... é um viado."


A notícia estampou os principais meios de notícia (rádio, televisão e jornal) e abalou muito Ayrton Senna. Um amigo muito próximo de Senna, chamado Afonso, disse anos depois a repercussão do assunto de uma forma muito peculiar e íntima:


"Senna veio de uma família tradicional e de bons costumes. Podemos caracterizar o Ayrton, sendo uma pessoa extremamente intensa (às vezes explosiva), mas muito introspectivo, chegando às raias da timidez, normalmente uma declaração daquelas, teria um impacto sobre-humano no íntimo dele. Por isso, à partir de 1988, Senna se tornou uma pessoa cada vez mais fechada no mundo da F1, começou a viver exclusivamente pelo automobilismo. Logicamente, não haveria motivos para duvidar da sexualidade de Senna, certamente se uma mulher aparecesse de forma insinuante para ele durante um final de semana de GP, ele a descartaria, mas se tal convite fosse feito no resto da semana, concerteza ele aceitaria. E fosse isso talvez, o motivo de tanta especulação, por parte de "garanhões de paddock" assumidos como o caso de seu grande rival. O fato é que esse assuunto repercutiu tanto que Senna decidiu entrar com uma representação na justiça, pedindo indenização por calúnia e injúrias."














Depois dessa grande "briga", os dois pilotos nunca mais sequer se cumprimentaram e evitaram ao máximo um falar do outro. Nas pistas entretanto, o mundo assistiu perplexo a ascensão de uma nova estrela (Ayrton Senna) e a decadência de um grande piloto (Nelson Piquet). Depois de uma escolha errada, ao trocar a Williams pela Lotus, Piquet, começa a enxergar Senna cada vez mais longe na pista, e geralmente (na maioria das vezes) na frente dele.

O fato é que a partir de 1988, os duelos em pista ficam cada vez mais escassos, e muito embora houvesse divergência entre os pilotos, Piquet ainda mantinha respeito ao profissional Ayrton Senna, como nessa entrevista para o jornal O Globo, em 1989:


"Se algum dia eu tivesse uma equipe, contrataria como meu piloto, Ayrton Senna. Eu e Prost, já estamos velhos demais, Mansell é um palhaço sobre quatro rodas. Já o Senna, é um piloto de muito talento e jovem, e concerteza vai se matar se for preciso, para chegar ao título e ser considerado o maior de todos os tempos."
















Senna por sua vez, recuava-se toda vez que o assunto se tornava Nelson Piquet, e não haveria motivos, para que ele cedesse, pois àquela altura, ele era considerado o maior piloto da atualidade e buscando recordes cada vez mais surpreendentes. Nelson talvez por isso, tenho ficado cada vez mais preterido em relação ao público nacional, e suas entrevistas, muitas vezes eram recheadas de um sentimento cada vez mais carregado de mágoas, como se ele sentisse desprezado pela imprensa (que certa vez ele tanto desprezou), mas nada disso, preocupava Senna, que fora tricampeão no período (1988/1991) e sendo o maior vencedor de corridas nesse período.


Em 1991, Nelson Piquet abandonou, sua carreira de forma melancólica, como disse o engenheiro mecânico da Benneton, alguns depois:

"É muito triste, você acompanhar um fim de carreira de um grande piloto como Piquet; talvez tenha sido o ano em que ele mais aproveitou sua vida na F-1, ensinou muitas coisas à Michael Schumacher e pilotou puro e simplesmente pelo prazer de pilotar. Lembro-me que a última corrida foi encerrada por condições metereológicas, e horas depois, quando o tempo firmou. Piquet me pediu para que pudesse dar uma volta, a última volta; eu neguei. Era proibido por normas da FIA, já que a corrida havia sido intemrrompida e o autódromo fechado. Mas lembro-me daquele dia como se fosse hoje."


Essa rivalidade cheia de controvérsias e declarações bombásticas, na verdade encobria uma relação de admiração mútua, por parte dos dois pilotos, e isso pode ser facilmente exemplificado, pelas situações que envolveram gravíssimos acidentes de ambos os pilotos; como o de Nelson Piquet pela F-Indy em 1992, em que Ayrton, segundo amigos próximos demonstrou uma preocupação excessiva preocupação com o compatriota:

"Senna, ligou para o hospital universitário nos EUA, diversas vezes e questionou o procedimento cirúrgico acerca do Piquet, por diversas vezes. Não satisfeito, resolveu mandar uma mensagem ele próprio, dizendo que torcia pela pronto recuperação de Piquet."

O que ele Senna, devido à ser uma pessoa muito sensível e introspectiva, desejava ouvir, foi dito no dia de sua morte, em 1 de Maio de 1994. Ao acompanhar seu filho (Nelsinho) em uma competição de Kart, Piquet é surpreendido por um popular, que grita:

- "Fala Piquet, seu inimigo se f ...."

Piquet, muito constrangido, responde em voz alta:

"Não era meu inimigo, era meu adversário."

E depois ao olhar para o filho, colocando o capacete, deixa uma lágrima sair pelo canto dos olhos, e repete para si mesmo e dessa vez, em voz baixa:

"Era o melhor de meus adversários."



AYRTON - O Herói Revelado

Um comentário:

  1. Tenho que concordar... "O certo então, é não apostar demais em filhos e/ou sobrinhos de ex-campeões, pois certamente, a história nos mostra uma história diferente nos dizendo que; apesar da nostalgia em ver sobrenomes que construíram a história da F-1, muito desses pilotos podem não passar da linha da mediocridade."

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