O ano de 1979 se inicia, como sendo Ayrton Senna, o mais famoso kartista do país, jamais, em qualquer outra situação, o nosso país, havia obtido um resultado tão expressivo quanto uma sexta colocação no mundial; quando andando bem, os nossos pilotos não conseguiam mais do que uma vigésima colocação. Isso de certa forma atraiu a atenção de todos no meio e criou algumas situações peculiares.
No cenário do karting brasileiro Senna era sem duvida o melhor mas não recolhia unanimidade. O seu estilo muito individualista pois dificilmente trabalhava em equipe, aliado a uma profunda agressividade em pista era por alguns considerado uma afronta e não foi uma nem duas vezes que Senna teve problemas com o "sistema".
Um dos maiores "amigos" de Senna era o todo-poderoso Rubens Carpinelli que foi durante vários anos Presidente da Comissão de Kart da Confederação Brasileira de Automobilismo e várias vezes Presidente da Federação Paulista de Automobilismo.
Entretanto, o rapaz de Santana, continuava, totalmente avesso as situações extra-pista e dentro dela, continuava a triturar a concorrência nacional, nesse ano Senna conquistaria o campeonato brasileiro e o Kart 1ª Categoria. Em um âmbito internacional, Senna conquistaria também três campeonatos (Grande Prêmio de San Marino, Grande Prêmio da Suíça e Grande Prêmio da Itália), além de um vice-campeonato mundial e sul-americano.
Em 1979 Ayrton Senna da Silva já era um nome que impunha respeito no Karting Europeu. As suas brilhantes prestações no Mundial de Le Mans onde foi considerado o piloto revelação granjearam-lhe desde logo um contrato como piloto oficial da DAP e sem dúvida que era um favorito a qualquer corrida em que participasse.
O programa que estabeleceu para 79 conjuntamente com a DAP era muito mais abrangente e nesse ano Ayrton passou quase 5 meses na Europa. O objectivo era a conquista do Mundial de Kart que se realizaria nesse ano no Kartódromo do Autódromo do Estoril.
Ayrton chegou a Itália em Maio e desta vez não ficou instalado em nenhum "hotelzinho" de 2ª categoria. Os irmãos Parilla sabiam do activo que tinham nas mãos e agiram em conformidade optando por hospedaram-no nas suas próprias casas. Ângelo contou que ele ficava uma semana em casa dele, uma semana em casa de Acchile e de entremeio ficava também na casa da Mãe deles, não fosse o diabo tece-las e Grana e a sua IAME ficarem mais atrevidos.
.O kart com o qual Senna conquistara o vice-campeonato mundial.
O programa internacional desse ano incluía além da defesa do Campeonato Sul-Americano na Argentina, o Mundial que se realizaria no Estoril e os GP´s da Suiça, San Marino e Parma. Competiria ainda no meeting de Josolo que se realizava nos arredores de Veneza e que era considerada a 2ª prova mais importante da temporada, a seguir ao campeonato do Mundo.
Terry Fullerton, experiente colega de equipe de Ayrton na DAP e considerado por muitos como a referência no Kart conta assim este ano de 1979:
"Ayrton era muito novo (19 anos) e inexperiente mas se no ano passado era totalmente desconhecido nesse ano foi sempre um sério candidato á vitória.
A sua rapidez era inquestionável mas acima de tudo o que o caracterizava era ser obsessivamente determinado como aliás demonstrou em toda a sua carreira, mas esse excesso de uma certa forma prejudicou-o pois tornava-o muito individualista e egoísta, e acredito que foi isso que não o deixou ganhar o campeonato mundial."
Senna ganhou em San Marino num perigoso e muito rápido circuito de rua, Parilla contou que, como de costume, Senna, no início da corrida, tinha disparado na frente mas na segunda metade da corrida começou a ser alcançado, mas ainda tinha uma boa liderança quando houve um incidente de vários participantes numa curva e o espaço para os outros passarem era mínimo. Senna vinha a toda a velocidade e quando se deparou com a situação, malandramente, estacionou o seu kart ao lado da pista, fechando a passagem aos adversários. Perante a situação e como faltavam poucas voltas para terminar a corrida os organizadores decidiram terminar ali a corrida e atribuir-lhe o 1º lugar.
Já em Josolo, Senna fora surpreendido por um grave acidente a aproximadamente 110 km/h em curva, cuja área de escape era mínima e Ayrton se feriu em meio aos arames, o seu principal adversário (Terry Fullerton) lembrara assim o episódio:
"Foi um acidente horrível pois ele ia pelo menos a 100 / 110km/h e ali a escapatória era muito curta. Muito perto havia uma cerca de arame e ele espetou-se lá á força toda, primeiro ele e depois o kart. Foi feio e magoou-se. Foi pura inexperiência e como é óbvio depois disso os tempos não foram brilhantes. Na corrida ele teve um outro momento horrível. Ele estava a ultrapassar alguém, forçou e foi catapultado para fora do kart. O miúdo era cheio de habilidade e talento mas estava numa idade em que a palavra medo nada significava para ele. Pagou-as."
Ângelo Parilla: "Ao fim de duas voltas nos treinos ele voltou á box e disse 'o pneu da frente do lado esquerdo é maior do que o lado direito'. Eu respondi-lhe que era impossível, que ele estava doido, mas ele insistia. Nós verificamos e era verdade, por um milímetro.
Depois do acidente tivemos que trocar o chassis mas durante a troca do motor não reparamos que o carburador tinha ficado avariado. Ficou desesperado porque não conseguia rodar nos tempos que já tinha feito. Na corrida chegou a rodar em 2º mas teve outro acidente."
Outro a comentar sobre o prodígio fora Peter de Bruijin (campeão do mundo em 80): " Era muito bom competir com Senna, fantástico mesmo. Eu achava que ele era muito duro e exigente com ele próprio. Vi corridas deles em que depois de se despistar era levado para o hospital, voltava e lá ia ele, no limite, sempre no limite. Era impressionante. Em Josolo os mecânicos tiveram que levanta-lo e pô-lo no kart de tão mal que ele estava. É difícil de imaginar o que ele exigia dele próprio. Creio que nessa corrida (Josolo) ele despistou-se quatro vezes."
Seguiu-se o campeonato do Mundo no Estoril. O autódromo preparou-se para a grande festa fazendo uma pista que utilizava além de partes das boxes e do paddock, também parte da recta da meta. A torcida Portuguesa compareceu em força para apoiar a sua equipa que era composta por Figueiredo e Silva, António Dinis e Carlos Nascimento mas acabou rendida ao endiabrado e super talentoso brasileiro Senna da Silva que guiava para admiração das massas, "normalmente", só com um braço.
As baterias foram evoluindo normalmente com os melhores a destacarem-se e somente nas semifinais, que serviam essencialmente para atribuir o lugar no grid de largada para as finais, as hostilidades começaram.
Senna da Silva e de Bruijin eram os homens a bater e destacavam-se dos restantes. Senna estava especialmente forte talvez pelo apoio da imensa torcida portuguesa que o aclamava sempre que passava em frente às bancadas lotadas começando aí uma empatia que se arrastaria até aos dias de hoje.
Entretanto uma decisão tumultuada concedera o título de campeão mundial, ao holandês, que posteriormente fora explicada da seguinte maneira pelo mesmo:
"Ganhei a 1ª final e na 2ª estava á frente quando o meu motor partiu. O meu campeonato desapareceu e ele (Senna) tinha-o nas mãos. Ai, ele fez um sinal ao seu companheiro de equipa Peter Koene para o passar porque pensou que seria o campeão e queria que a sua equipa, a DAP, tivesse os dois primeiros lugares no campeonato. Na 3ª final ele simplesmente passeou-se em pista e ganhou. Só quando fomos verificar o peso ele realizou que não era o campeão".
Já Angelo Parilla, discorda da decisão:
"Continuo a dizer que ele não foi segundo no Estoril, digo que ganhou. Normalmente se alguém tinha o mesmo número de pontos o desempate fazia-se pelos resultados da 3ª final. Foi assim desde sempre, ele não sabia e poderia ter ganho a 2ª final. Como é que o chefe da equipa Brasileira (Carpinelli) não lhe explicou?"
Mais uma vez Ayrton Senna viu os seus esforços para atingir o campeonato do mundo esfumarem-se á sua frente mas a grande qualidade que todos lhe apontavam era a sua determinação e assim em 1980 voltaria para tentar mais uma vez alcançar o sonho que já há largos anos perseguia.
Terry Fullerton, experiente colega de equipe de Ayrton na DAP e considerado por muitos como a referência no Kart conta assim este ano de 1979:
"Ayrton era muito novo (19 anos) e inexperiente mas se no ano passado era totalmente desconhecido nesse ano foi sempre um sério candidato á vitória.
A sua rapidez era inquestionável mas acima de tudo o que o caracterizava era ser obsessivamente determinado como aliás demonstrou em toda a sua carreira, mas esse excesso de uma certa forma prejudicou-o pois tornava-o muito individualista e egoísta, e acredito que foi isso que não o deixou ganhar o campeonato mundial."
Senna ganhou em San Marino num perigoso e muito rápido circuito de rua, Parilla contou que, como de costume, Senna, no início da corrida, tinha disparado na frente mas na segunda metade da corrida começou a ser alcançado, mas ainda tinha uma boa liderança quando houve um incidente de vários participantes numa curva e o espaço para os outros passarem era mínimo. Senna vinha a toda a velocidade e quando se deparou com a situação, malandramente, estacionou o seu kart ao lado da pista, fechando a passagem aos adversários. Perante a situação e como faltavam poucas voltas para terminar a corrida os organizadores decidiram terminar ali a corrida e atribuir-lhe o 1º lugar.
Já em Josolo, Senna fora surpreendido por um grave acidente a aproximadamente 110 km/h em curva, cuja área de escape era mínima e Ayrton se feriu em meio aos arames, o seu principal adversário (Terry Fullerton) lembrara assim o episódio:
"Foi um acidente horrível pois ele ia pelo menos a 100 / 110km/h e ali a escapatória era muito curta. Muito perto havia uma cerca de arame e ele espetou-se lá á força toda, primeiro ele e depois o kart. Foi feio e magoou-se. Foi pura inexperiência e como é óbvio depois disso os tempos não foram brilhantes. Na corrida ele teve um outro momento horrível. Ele estava a ultrapassar alguém, forçou e foi catapultado para fora do kart. O miúdo era cheio de habilidade e talento mas estava numa idade em que a palavra medo nada significava para ele. Pagou-as."
Ângelo Parilla: "Ao fim de duas voltas nos treinos ele voltou á box e disse 'o pneu da frente do lado esquerdo é maior do que o lado direito'. Eu respondi-lhe que era impossível, que ele estava doido, mas ele insistia. Nós verificamos e era verdade, por um milímetro.
Depois do acidente tivemos que trocar o chassis mas durante a troca do motor não reparamos que o carburador tinha ficado avariado. Ficou desesperado porque não conseguia rodar nos tempos que já tinha feito. Na corrida chegou a rodar em 2º mas teve outro acidente."
Outro a comentar sobre o prodígio fora Peter de Bruijin (campeão do mundo em 80): " Era muito bom competir com Senna, fantástico mesmo. Eu achava que ele era muito duro e exigente com ele próprio. Vi corridas deles em que depois de se despistar era levado para o hospital, voltava e lá ia ele, no limite, sempre no limite. Era impressionante. Em Josolo os mecânicos tiveram que levanta-lo e pô-lo no kart de tão mal que ele estava. É difícil de imaginar o que ele exigia dele próprio. Creio que nessa corrida (Josolo) ele despistou-se quatro vezes."
Seguiu-se o campeonato do Mundo no Estoril. O autódromo preparou-se para a grande festa fazendo uma pista que utilizava além de partes das boxes e do paddock, também parte da recta da meta. A torcida Portuguesa compareceu em força para apoiar a sua equipa que era composta por Figueiredo e Silva, António Dinis e Carlos Nascimento mas acabou rendida ao endiabrado e super talentoso brasileiro Senna da Silva que guiava para admiração das massas, "normalmente", só com um braço.
As baterias foram evoluindo normalmente com os melhores a destacarem-se e somente nas semifinais, que serviam essencialmente para atribuir o lugar no grid de largada para as finais, as hostilidades começaram.
Senna da Silva e de Bruijin eram os homens a bater e destacavam-se dos restantes. Senna estava especialmente forte talvez pelo apoio da imensa torcida portuguesa que o aclamava sempre que passava em frente às bancadas lotadas começando aí uma empatia que se arrastaria até aos dias de hoje.
Entretanto uma decisão tumultuada concedera o título de campeão mundial, ao holandês, que posteriormente fora explicada da seguinte maneira pelo mesmo:
"Ganhei a 1ª final e na 2ª estava á frente quando o meu motor partiu. O meu campeonato desapareceu e ele (Senna) tinha-o nas mãos. Ai, ele fez um sinal ao seu companheiro de equipa Peter Koene para o passar porque pensou que seria o campeão e queria que a sua equipa, a DAP, tivesse os dois primeiros lugares no campeonato. Na 3ª final ele simplesmente passeou-se em pista e ganhou. Só quando fomos verificar o peso ele realizou que não era o campeão".
Já Angelo Parilla, discorda da decisão:
"Continuo a dizer que ele não foi segundo no Estoril, digo que ganhou. Normalmente se alguém tinha o mesmo número de pontos o desempate fazia-se pelos resultados da 3ª final. Foi assim desde sempre, ele não sabia e poderia ter ganho a 2ª final. Como é que o chefe da equipa Brasileira (Carpinelli) não lhe explicou?"
Mais uma vez Ayrton Senna viu os seus esforços para atingir o campeonato do mundo esfumarem-se á sua frente mas a grande qualidade que todos lhe apontavam era a sua determinação e assim em 1980 voltaria para tentar mais uma vez alcançar o sonho que já há largos anos perseguia.
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