Entretanto depois do pit-stop o improvável começa acontecer. Neste momento, os problemas mecânicos começaram a aparecer no carro do brasileiro. Primeiro Senna perdeu a quarta marcha, tendo assim, que passar da terceira direto para a quinta. Depois, nenhuma marcha funcionava sem que o piloto brasileiro tivesse que segurar a alavanca de marchas para que ela permanecesse engatada. Senna teve que segurar a alavanca de câmbio com a mão direita e pilotar com a esquerda. Respirou fundo e aí rezou "vai dar, vai dar". Percorreu mais duas voltas e quando viu a placa a notícia não era boa + 4-L3. Tinha perdido três segundos para Patresse. Com isso Senna não olhou mas para a placa e desligou o radio.
Senna repetia nervosamente em baixo da viseira:
"Hoje não pode ser, hoje não."
Na transmissão da Rede Globo, Galvão Bueno se atentava para a brusca redução de diferença que Patrese impunha no momento e começava a ficar preocupado:
"Senna tem que responder imediatamente, ele tem que responder e intimidar o Patrese."
Não havia mínimas chances de Senna responder e Patrese com isso, começava a diminuir a diferença assustadoramente. O capacete verde e amerelo, mais uma vez escondia os sacrifícios físicos a que Senna se impunha em prol de um bem maior. Seria muito mais cômodo e fácil, se ele encostasse o carro, na reta oposta e falasse depois que fora problema de câmbio; mas não se tratava de qualquer piloto, era Ayrton Senna.
O desespero toma conta da cabine de transmissão, ao caírem as primeiras gotas de uma leve garoa:
"Acabaaaa com isso Nihat Hidasi"
Hidasi (diretor de prova) não teria quaisquer motivos para atender o pedido de Galvão Bueno e acabar com a prova antes do fim, apesar da garoa, e com isso, Senna continuaria em seu pleno ritual de entrega e sacrifício durante mais algumas voltas.
Mas, subitamente, a sete voltas do final, Senna passou a perder sete segundos por volta, já que nenhuma marcha mais entrava. O brasileiro, desesperado, tentou engatar a sexta marcha e, por pura sorte, ela entrou. Foi aí que Senna percebeu que teria que terminar o GP Brasil de 1991 com apenas uma marcha, a sexta, enquanto a Williams de Patrese se aproximava velozmente. Foi assim; dessa maneira que Senna levou o carro literalmente no braço até a bandeirada final, tendo que segurar a marcha no braço direito e guiar o volante com a esquerda.
O italiano, informado que Senna tinha problemas, tentou aproximar-se, mas seu carro também não estava em condições ideais. Faltando apenas duas voltas para o final; Patrese decide se abdicar da luta pela primeira posição tendo em vista a importância da vitória para Senna e depois as consequências que implicariam uma ultrapassagem àquela altura da corrida. Senna mesmo afirmou após o término da corrida:
"Se ele tivesse que me passar, teria que ser por cima, por que eu não o deixaria; não hoje"
A última volta, toma contornos dramáticos, a chuva aumenta torrencialmente, e guiar a Mclaren naquelas condições se torna uma atitude heróica de Senna. Ayrton; certo de sua bravura começa gesticular nervosamente dentro do carro e Galvão narra:
"O Senna apontaaaaa, acenaaaaa."
Àquela altura Senna, já se entregava copiosamente ao choro dentro do cockpit, sua vitória mais sonhada, vinha de uma maneira jamais imaginada, nem em seus maiores devaneios; vinha debaixo de muita luta, dor, sofrimente e lágrimas; a torcida agita-se na arquibancada e ao cruzar a reta de chegada, Senna explode em um misto de desabafo, alegria e muita dor. Seus gritos se confundem em meio ao grito da multidão no autódromo e também do narrador da televisão:
"Eu não acreditooooooooo, eu não acreditoooooooooooo, eu venciiiiiiiiii, ahhhhh, eu venciiiiiiiiii"
O carro encosta na reta oposta; e os primeiros fiscais chegam para cumprimentar o triunfo de Senna, entretanto se deparam com uma cena inédita; Senna mal conseguia sair do carro, tamanho o desgaste físico despendido nas últimas voltas da corrida.
quinta-feira, 4 de junho de 2009
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